Um pouco sobre Ayotzinapa

Neste final de semana tive a oportunidade de estar presente em um evento em solidariedade à Ayotzinapa, aos 43 estudantes desaparecidos há mais de 5 meses e às mães e pais que seguem buscando seus filhos. O evento ocorreu na Cidade do México e contou com o depoimento das mães e pais, música, estampa em camisetas, performance teatral e poesia.DSC05052

Como nem sempre é fácil encontrar informações a respeito no Brasil, principalmente porque as notícias sobre a América Latina não são tão difundidas, vou relatar um pouco do que foi dito e como está a situação aqui na Cidade do México.

Um pouco sobre o que aconteceu em Ayotzinapa:

No dia 26 de setembro de 2014 estudantes da Escuela Normal Rural “Raúl Isidro Burgos” de Ayotzinapa, Guerrero, foram atacados no município de Iguala pela polícia local quando iam arrecadar dinheiro para seus gastos escolares e ir a uma marcha comemorativa do dia 2 de outubro de 1968 (dia em que ocorreu uma matança por parte do governo mexicano contra manifestantes) na Cidade do México.

Neste dia 26 em Guerrero 6 pessoas foram mortas, 25 feridas e 43 desaparecidas. Se trata de um crime de Estado que foi encoberto inclusive por outras autoridades que estavam próximas ao local. O Estado também tentou associar os normalistas ao crime organizado, se tratando na realidade de tentar criminalizar as manifestações e lutas políticas no México.

As normais rurais são um projeto de educação socialista fundadas na década de 1920 por José Vasconcelos e impulsadas pelo governo de Lázaro Cárdenas em 1934. O objetivo principal era formar docentes provenientes de regiões indígenas e camponesas para que elxs pudessem ensinar em escolas primárias e atender às necessidades de suas próprias comunidades. Já chegaram a existir 46 normais rurais em todo o país, mas mais de metade delas foi fechada durante a repressão estudantil de 1968. Atualmente resistem apenas 17 delas, sendo que seus estudantes são considerados muito combativos e organizados, e por isso mesmo possíveis alvos de perseguições por parte do governo.

(Informações retiradas de um panfleto das Comunidades del Valle del Anahuac por Ayotzinapa)
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Evento em solidariedade:

Um dos pais que deram seu depoimento contou um pouco a respeito da busca dos estudantes normalistas. Disse que o governo mexicano está alegando que os 43 estudantes foram mortos e seus corpos incinerados em uma certa região do país, porém há uma equipe de forenses argentinos que estão ajudando nas investigações e que afirmam não haver indícios que incendiaram os corpos nesse local, pois a fumaça dos 43 corpos iria se expandir por vários metros, haveria indícios de que as folhas das árvores estariam queimadas e outros tipos de provas que não foram encontradas no local.

Por isso os pais e mães acreditam que seus filhos seguem vivos e que o governo apresentou essa versão para que eles parem de buscar, para que as marchas parem de ocorrer e se esqueça esse assunto (como se isso fosse possível).

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No mesmo evento também se lembrou do massacre de Acteal, no ano de 1997 em Chiapas. Nessa comunidade de etnia Tzotzil jornalistas encontraram os corpos de 45 pessoas, inclusive crianças e mulheres grávidas, crime em que nenhum dos responsáveis foi castigados. Eles haviam de identificado como partidários do governo do PRI (Partido Revolucionário Insittucional, o mesmo do atual presidente Enrique Peña Nieto). Na época o território estava passando por tentativas de controle de grupos paramilitares que buscavam combater a EZLN (Exército Zapatista de Liberação Nacional).

84 pessoas haviam sido responsabilizadas pelo massacre, 58 foram presas. Dessas, 36 foram liberadas e para as outras 22 se iniciou um novo processo porque a prisão teria sido realizada sobre provas falsas, segundo a Suprema Corte de Justiça da Nação.

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Neste dia também gravei um vídeo de mulheres estudantes de uma normal ruralista contando um pouco sobre as normais no México e declarando seu apoio à Ayotzinapa, vale muito a pena escutá-las:

CUANDO EL PUEBLO SE LEVANTE
POR PAZ, LIBERTAD Y TIERRA
LOS PODEROSOS TEMERAN
DE LA COSTA A LA SIERRA

Aproveito aqui para divulgar aqui alguns sites relacionados:

* Mais sobre Acteal e o grupo Las Abejas: http://acteal.blogspot.mx/
* Centro de Derechos Humanos de la Montaña: http://www.tlachinollan.org/
* Notícias sobre América Latina: https://clasefazio.wordpress.com/

Referências:
http://www.animalpolitico.com/2012/12/masacre-en-acteal-15-anos-sin-justicia/

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Sobre a reabilitação de agressores e o texto de Lola

Acabo de ler o texto “Não me perdoo pelas pessoas que estuprei” no blog “Escreva Lola Escreva”. Gostava de algumas coisas do blog da Lola mas desde que participei de uma roda de conversa (não me lembro exatamente o tema, mas algo relacionado a feminismo, violência contra a mulher, etc.) em que ela estava junto com outra professora não consegui ler praticamente mais nada do que ela escreve, fiquei surpresa com sua abstração acadêmica e seu relativismo nas falas apesar da suposta coerência de seus textos. Nesta ocasião Lola foi muito difusa e claramente percebi (e não só eu, mas outras companheiras feministas libertárias também) como ela mudava seus argumentos de acordo com as intervenções de outras mulheres. Neste dia me lembro da Lola falando, assim como neste texto, em “reabilitação” de agressores, além da relativização de assédios verbais que sofremos nas ruas. Parecia que ela queria agradar a todxs, mulheres e homens (apesar da maioria ali ser mulher), baseada em um modelo de justiça abstrata que olha as pessoas como iguais e passando por cima das desigualdades existentes. Voltarei a este ponto mais adiante.

Enfim, Lola publicou em seu blog um e-mail de um estuprador arrependido com a intenção de fazer uma crítica ao “punitivismo muito forte” por parte de algumas feministas, comparando-as aos reacionários, defensores da pena de morte e da redução da maioridade penal. (Aliás para ela me parece que qualquer crítica a seus textos abstratos é feita por reacionários, o que é uma maneira bem simplista de reduzir a questão).

Um pouco antes de ler este texto eu havia lido um outro com o título “Escreva Julia Escreva”, onde uma mulher desabafa que seu estuprador teve voz, ela não. Só fui encaixar as coisas depois de ler o texto da Lola e entendi que essa era uma resposta de uma sobrevivente. Uma resposta seca, direta e com muita dor, com certeza. Fiquei pensando na raiva que senti lendo o texto da Lola, e que não deve ter chegado nem perto da raiva em que esta mulher sentiu. Porque mesmo Lola cogitando (e divagando sem fim, querendo defender uma forma de justiça abstrata) que as pessoas estupradas pelo cara que enviou o e-mail poderiam ver aquilo, ou que aquele e-mail poderia gerar memórias traumáticas em algumas pessoas ela optou por dar voz ao estuprador, porque acredita na reabilitação dos homens agressores. Mas eu escrevo aqui para engrossar a voz de Julia, porque acredito na sororidade feminista*.

Há muito tempo é colocada a questão às feministas, ou pelo menos às que atuam em movimentos sociais ou em espaços libertários sobre o que fazer com agressores machistas que estão dentro desses espaços. Seria justo excluí-los? Mas isso não acabaria com o machismo, não mudaria a forma de pensar dos homens, então o que muda? Não seria mais útil educar os agressores para que eles não repitam seus erros?

Eu acredito que é sim correto excluir opasoatras agressor. Primeiramente eu insisto: o mais importante em uma situação de agressão é o apoio à agredida. Nós sabemos que quando uma mulher é agredida o que acaba acontecendo é que ela se retira do espaço social em questão (ou dos vários espaços em que ela frequentava em comum com seu agressor) e o homem continua, já que obviamente seria mais do que desagradável encontrá-lo. Além disso, devido ao machismo ainda há a ideia muito forte de que os homens seriam melhores em atuações políticas, teriam mais conhecimento de causa, mais legitimidade e claro, ele conta com uma rede de fraternidade machista enorme para defendê-lo e apoiá-lo mesmo que esteja errado, e deste modo o espaço em questão é tido como dele por direito. Muitas mulheres já sentiram isso na pele, e me incluo dentre estas. Muitas vezes o agressor tem mais apoio que nós. A ideia de “reabilitação” só reafirma isso. Quando passei por uma situação desse tipo houve um esforço de meus “amigos feministas” (e espero que vocês tenham a oportunidade de ler esse texto, seus MERDAS) em reabilitar o cara em questão e claro, criticar minhas atitudes, o porquê não fui lá explicar ao agressor o quanto ele é um escroto e pedir pra ele mudar e não repetir os mesmos erros com outras mulheres. Como se nós mulheres tivéssemos que implorar a um homem para que ele nos trate como gente, com respeito. E como se isso não fosse obrigação de homens que tem contato com o feminismo, e como se eles não soubessem das merdas que fazem. Errar todos nós erramos, com certeza, mas algumas coisas têm limites, limites esses que os agressores sabem, mas não se importam em violar.

Lola também comenta sobre grupos de homens que conversam sobre a razão de sua violência, mas eu nunca vi nenhum grupo desse. O que vejo são homens entrando em grupos feministas e querendo cagar regra, falando qual seria o modo mais correto de nos posicionarmos além de reclamar quando nos organizamos em grupos fechados sem homens. E por fim, quando no último parágrafo de seu texto a autora coloca dados estatísticos relativizando estupradores e não dizendo nada concreto ela finge que não toma uma posição, mas que apenas propõe um questionamento sobre o tema, terminando o texto de uma forma supostamente mais neutra, sendo que sua posição já está bem clara no restante do texto.

Gostaria de pontuar algumas coisas. Primeiro acho que criticar outra feminista tem sim seus problemas, afinal em um mundo patriarcal que joga mulheres contra mulheres o tempo todo temos que lutar pela nossa união. Mas isso não significa que não devemos ter auto-crítica dentro dos tantos feminismos existentes. Nem todos me representam e minha posição libertária/anarquista sempre foi muito clara, apesar de isso não ser necessariamente um impedimento à união com outras mulheres em determinadas situações. Porém em minha visão este feminismo de Lola (que sim, pode trazer pontos positivos na vida de várias mulheres em outros momentos) engrossa a voz dos homens, que é a dominante. Não acredito que nós feministas precisemos dar voz aos agressores com a intenção de sermos “justas”. Este conceito de justiça abstrato é o conceito dos opressores e dominantes, e cabe muito bem a eles – afinal é bom relativizar a punição quando interessa. Acho que nós feministas libertárias temos buscado outros meios de denunciar agressores em nosso meios, sem necessariamente recorrer à polícia – instrumento de dominação de classe dentre outras coisas – como através do escracho, do boca a boca, contando o que aconteceu. E é isso que precisamos ainda fortalecer. Precisamos fortalecer as mulheres, as sobreviventes, e não dar MAIS voz aos agressores.

Os agressores já têm sido “reabilitados” desde sempre por seus amigos que julgam ser feministas, têm sido ouvidos e amparados e desde sempre fingem que mudaram seus comportamentos, apesar das reincidências que vemos. E se me disserem que a reabilitação do estuprador não exclui o apoio à vítima, neste caso digo de forma bem clara: quando em nossa sociedade o homem tem mais poder (simbólico, social, político, etc.) que a mulher, quando se dá voz a ele necessariamente se está calando a voz da vítima, porque ambas não tem o mesmo peso, o mesmo valor social. Abstração acadêmica na rua não, Lola.

CONTRA A fraternidade machista, SORORIDADE FEMINISTA!

* solidariedade, apoia-mútua, companheirismo entre mulheres, nossa rede de confiança, amizade, desabafo e resistência em um mundo heteropatriarcal.

injuryforall

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Um (ou uma tentativa de) posicionamento de uma anarquista sobre os acontecimentos em São Paulo*

Me sinto um pouco precipitada em escrever nesse momento, ainda não consegui digerir tudo o que tem acontecido em São Paulo nesses últimos dias, mas acho que o posicionamento dxs anarquistas se faz URGENTE!

Contextualização rápida: como muitxs** já sabem, às últimas manifestações pela redução da tarifa do transporte público em São Paulo se uniram várias pessoas com pautas diversas, cantando o hino nacional e com bandeiras do Brasil. Ao sair na rua me senti em uma festa que parecia uma mistura de carnaval com uma comemoração do Brasil vencendo a Copa do Mundo. Ouvi no jornal inclusive uma mulher (branca) dizendo “vamos protestar com alegria”. As pessoas (da classe média) tiraram diversas fotos pra postar no facebook, instagram e tudo o maisditadura: parece que a manifestação virou um passeio.

O anti-vandalismo: na manifestação de segunda-feira, dia 17, que foi seguida à intensa violência policial da quinta-feira (13), foi muito mais gente, como já escrevi aqui. Porém outras pautas foram acrescentadas à principal, a mídia mudou seu discurso e estava apoiando, a polícia não fez nada. O policialismo partia dxs próprixs manifestantes, que ficavam gritando “sem vandalismo”, “sem violência” e coisas do tipo, ao mesmo tempo em que apelavam para um comportamento violento contra quem estava querendo pixar ou fazer qualquer outra coisa do tipo – pelo que dá pra perceber “violência” para elxs é somente contra objetos inanimados, como muros e vidros de banco, mas a possibilidade de agressão física contra as pessoas que tentaram fazer essas coisas é valida para manter a “paz” na manifestação.

Dentro disso tudo já havia uma amostra do que viria depois, com gritos pelo “impeachment da Dilma”, do Alckmin, pautas vazias como “contra a corrupção”, dentre outras. A ideia era a de todos unidos pela Nação.

Acredito que a partir do momento que a grande mídia passou a apoiar as manifestações devemos nos lembrar de nossa própria história, ainda bastante recente:

Capa do jornal “O GLOBO”, no dia seguinte ao GOLPE MILITAR DE 64: “Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.”

Depois de segunda-feira, a tendência foi piorar. O que se viu foram manifestações nacionalistas cada vez mais fortes e além do rechaço ao “vandalismo” e “violência” passou a haver um maior rechaço às bandeiras dos partidos políticos em prol de uma única bandeira, a do Brasil. Skinheads saíram às ruas agredindo pessoas que estavam de vermelho, pessoas tentaram atear fogo em umalatuff ocupação sem-teto no centro da cidade. É a extrema direita sabendo se aproveitar das manifestações para seus fins nacionalistas, racistas, higienistas, dentre tantos outros.

Uma das coisas que me preocupam nisso tudo é que muita gente está participando e aderindo a este discurso da bandeira do Brasil sem refletir sobre o que isso está fortalecendo – a direita. A direita e todo o seu conservadorismo através de discursos vagos contra a corrupção, pela saúde e educação, por um país melhor. Coloco aqui um trecho do AI-2, de 1965, que um amigo me enviou:

“A Revolução é um movimento que veio da inspiração do povo brasileiro para atender às suas aspirações mais legítimas: erradicar uma situação e um governo que afundava o País na corrupção e na subversão.


(…) Art. 18. Ficam extintos os atuais partidos políticos e cancelados os respectivos registro
s”

Além disso o jornal “Brasil de Fato” divulgou hoje (21 de junho de 2013) que a Folha de São Paulo realizou ontem uma pesquisa que perguntava com qual afirmação a pessoa se identificava mais: “democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo”; “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático” e “tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura”, tendo 53%, 19% e 20% dos votos respectivamente. Segundo o “Brasil de Fato” a notícia sairá sob o título “Apoio ao regime democrático tem ligeira queda”, o que teria um viés antidemocrático. Não quero fazer previsões nem assustar ninguém – ninguém que tenha uma visão menos conservadora de mundo, pelo menos – mas isso tudo serve para nos fazer refletir o que estamos apoiando e o que um posicionamento contra certas coisas fortalece. No caso, se juntar a um coro “sem vandalismo”, “sem violência”, “corrupção não”, “por uma única bandeira” e outros estão claramente fortalecendo a direita nesta situação atual.

luta

Outra preocupação minha é que muitxs estão criticando essa postura antipartidária incluindo xs anarquistas no meio disso tudo, junto com os nacionalistas, cristãos, reacionários. Então eu gostaria de esclarecer algumas coisas. Em primeiro lugar, não nos posicionamos nem na esquerda nem na direita por essa ser uma referência em geral a partidos políticos. Não fazemos parte de nenhum partido porque somos a favor da autogestão, organização das pessoas por elas mesmas, quebra de hierarquia (fortemente presente dentro de qualquer partido de esquerda ou direita) e consequentemente de horizontalidade nas relações sociais. Tampouco somos a favor de qualquer ideia de Nação ou unidade nacional, porque em nossa concepção essa ideia territorial e ideológica separa as pessoas em fronteiras políticas e muitas vezes dificulta nossa união – somos internacionalistas. Como já diz bem o cartaz ao lado, não estamos pela nação mas por todos os povos, em qualquer lugar em que estivermos e atuarmos politicamente.

Dessa forma quero deixar aqui muito claro que não somos de nenhum partido, mas também não somos favoráveis às bandeiras do Brasil e a essa ideia de Nação que vem sido propagada. Não estamos com os nacionalistas porque nosso grito não é “sob uma única bandeira”, mas sim “SEM FRONTEIRAS E SEM BANDEIRAS!”.

antifascista

* esse texto apresenta o posicionamento individual da autora, apesar do uso do plural em alguns momentos pelo pressuposto de que há dentro de certas correntes anarquistas ideias em comum que nos unem.

** a letra ‘x’ é utilizada para romper o sexismo linguístico que omite o gênero feminino e coloca o masculino como sujeito único universal, substituindo a letra ‘a’, ‘e’ ou ‘o’.

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Sobre a caminhada-noturna-pacífica-legalista de SP

O que foi esse 5º ato contra o aumento da passagem? Ou como disse um amigo meu, como quinta-feira virou segunda-feira? Apesar de mais pessoas nas ruas a manifestação estava despolitizada, o foco que é o passe livre foi diluído completamente, tudo parecia uma festa ridícula de caras pintadas onde muitxs* (que inclusive não pegam ônibus e metrô, vale reforçar) saíram do conforto de seus lares pela primeira vez para tirar o foco da causa, fazendo o que a Veja, uma das grandes referências do conservadorismo, já havia sugerido em uma de sua edições recentes e transformando o ato em uma caminhada-noturna-pacífica-legalista contra a corrupção e pelo amor à pátria, com bandeiras do Brasil e cantando o hino nacional. Aplaudiram a polícia. Aliás a manifestação não precisou de ação policial porque xs mesmxs que saíram às ruas policiaram xs manifestantes o tempo todo, vaiando e gritando “sem vandalismo” quando alguém quis fazer uma pixação em protesto contra o capitalismo, esse mesmo que tanto beneficia a classe média e seus privilégios, que saíram do ato para tomar sua cerveja importada tranquilamente – e com muita comemoração e alegria, claro! – em algum bar da Vila Olímpia.

Essxs manifestantes foram impedidxs pelos reaças de protestar da forma que queriam, pois afinal de contas o bairro burguês delxs com seus bancos e lojas de automóveis caros não poderia ter expressões que contrariassem seus interesses – mesquinhos e opressores – de classe. E são essxs manifestantes que tomaram bomba de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e bala de borracha todos os outros dias, afim de defender a causa do passe livre, sem abstrações como “contra a corrupção” que na verdade só servem para despolitizar e diluir as reivindicações.

992993_653735791322148_447163038_nÉ claro que não se trata somente de passe livre, ou de 20 centavos. Mas também não se trata de ser “contra a corrupção”, “viva o Brasil” ou coisas do tipo. Me falaram inclusive que viram um cartaz escrito “Brasil: ame-o ou deixe-o” – e pra quem não lembra esse era justamente o slogan utilizado pela ditadura militar em uma estratégia muito clara de manutenção desse regime repressivo. Essas reivindicações nacionalitas como esse movimento são reacionárias, porque as fronteiras políticas e artificiais dos países foram criadas com a intenção de separar os povos, como mostra bem a máxima “dividir para conquistar”. Estamos em uma luta anticapitalista, que dentro da lógica global do Kapital têm influência, inclusive mas não somente, no transporte público. O movimento contra a corrupção faz parte de uma luta pela manutenção da estrutura de classes, desse sistema que beneficia poucxs através da exploração de muitxs.

O que me alivia de certa forma é que, como bem sabemos que acontece, muito provavelmente essa classe média reacionária que transformou a manifestação em um dia de caminhada noturna por São Paulo se sentirá com “missão cumprida” e não participará de mais nenhuma manifestação. Melhor assim.

ARRIBA LXS QUE LUCHAN!

 slavoj

* a letra ‘x’ é utilizada para romper o sexismo linguístico que omite o gênero feminino e coloca o masculino como sujeito único universal, substituindo a letra ‘a’, ‘e’ ou ‘o’.

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Desabafo

Incrível como machistas agressores e passadores de pano desses mesmos machistas são os que mais gostam de falar, postar na internet e cobrar atitudes feministas dxs outrxs. Eu mal consigo descrever a sensação que sinto quando vejo esses mesmos agressores postando coisas como “o primeiro amor de uma mulher deveria ser o amor próprio”, ou compartilhando links da página do facebook “homens realmente feministas” e etc. Me causa repulsa. Me dá ódio.

O mínimo que um agressor machista deveria fazer é ficar pianinho. Ficar postando conteúdos feministas pra limpar a própria barra e para continuar atraindo mulheres que ele vê como um alvo para seu círculo de possíveis fodas é escroto, desonesto, nojento e uma prova de que sua conduta machista se mantém a mesma ou até pior, pois se usa o discurso feminista para limpar a própria barra e continuar usando as mulheres, e até mesmo continuar jogando mulheres contra mulheres.

O mínimo que um passador de pano de amigo(s) machista(s) deveria fazer é ficar pianinho também. Porque é muito fácil vir falar “moça você é machista” enquanto se mantém uma amizade com um próprio agressor machista. Enquanto não se fica do lado da sobrevivente, mas se procura a todo momento atenuar a conduta do agressor machista, alegando que ele “perdeu a cabeça/mudou/não é assim/foi sem querer”, infantilizando suas condutas a todo instante, tratando-o como se ele fosse uma criança que não mede as consequências de seus atos.

Um foda-se e morra pra todos vocês.

 

Dominatrix – Broken Glass Candy (tradução)

você por favor, você por favor

conte todas as gotas de chuva uma por uma

e as assista casando-se no chão

tem o número? tem o número?

esse é o tamanho da minha…

tem o número? tem o número?

esse é o tamanho da minha fúria

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Agressão e conivência.

Eu pensei e ponderei em escrever sobre uma discussão que tive ontem com um defensor de um agressor machista, mas achei que não valia a pena, que o moleque em questão era só um idiota que não merecia que eu perdesse meu tempo com ele. Porém, ao entrar na internet logo cedo hoje e ver a notícia “Mulher rejeita cantada de homem em bar e leva tiro em Guaratiba” não pude deixar de me revoltar (mais).

Sobre o defensor de agressores:

Ontem estava com um amigo voltando da faculdade, que encontrou dois conhecidos. Esses conhecidos começaram a falar sobre festas, e um deles, que chamarei de M, disse que seu amigo da biologia não estava mais vendendo cerveja no “Quinta e Breja” (festa da USP) porque “umas feministas” (com tom pejorativo, claro) haviam feito escracho contra esse amigo. Tentando me lembrar da história questionei o motivo do escracho, e este disse que era porque uma menina disse que o cara da biologia havia batido nela. Então M começou a dizer que a menina devia ter inventado tudo aquilo para ferrar com o cara (isso mesmo!). Aí eu comecei a falar que assumir e expor que se sofreu uma violência é difícil, uma humilhação para a mulher, então por que ela inventaria aquilo tudo?

ImageEntão M me disse que no momento do escracho ele queria falar com as feministas para defender o amigo agressor, e esse próprio amigo disse que havia batido na menina (contraditório? Magina!). M começou a me falar que não tinha sido nada demais, que o amigo agressor estava de cabeça quente, que não pegou ela e “deu porrada pra valer” e que ela mereceu. Obviamente comecei a discutir com o cara, ele disse para o amigo “estou começando a ficar nervoso” (com a intenção de me intimidar?), eu questionei se ele iria me bater, ele disse que não. Enfim, ele foi embora e eu também.

Fui embora indignada (mas não surpresa) com o fato de M defender um agressor de mulheres. A amizade com o cara não impede que ele admita que o amigo errou, e feio. Não impediria que ele cobrasse a atitude escrota do amigo. Mas M preferiu primeiro negar o ocorrido, depois amenizar a situação e, como se não bastasse, culpar a vítima – ela mereceu.

Tiro em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro:Image

A notícia é de ontem à tarde. Débora, estudante de enfermagem de 31 anos havia ido ao bar para comprar cigarros, encontrou uns amigos e parou um pouco para conversar. Um homem começou a dar em cima dela (provavelmente falando aqueles “elogios” que não podemos responder porque corremos o risco de sermos agredidas), a obrigou a beber cerveja e o dono do bar, percebendo a situação, interveio. O homem em questão respondeu agressivamente e o dono resolveu fechar o bar. Débora foi acompanhada para casa com dois amigos, mas eles encontraram o agressor na esquina, que estava armado e disse que ia matá-la. Débora saiu correndo e o agressor deu dois tiros, um pegou no chão e o outro na perna de Débora, que está internada no hospital. Ele também é suspeito de ter estuprado várias mulheres.

Notícia com vídeo e depoimento da irmã e da mãe de Débora aqui.

E o que uma coisa tem a ver com a outra?

Não estou dizendo que as situações são iguais, porém a lógica (patriarcal) é muito parecida.

Para M não há problema em agredir uma mulher, afinal de contas não foi “porrada pra valer” e ela merecia. Era preciso que a menina ficasse sangrando no chão para que isso fosse considerado grave? O que me faz pensar que M poderia ser um agressor de mulheres também, já que ele não vê problemas nisso.

ImageO que acontece, se tratando de violência entre homens e mulheres com algum laço afetivo, é que há uma evolução das agressões, que inclui violência verbal, psicológica, física ou outras. Por isso o agressor deve ser denunciado o quanto antes, e a mulher deve sair dessa situação o quanto antes, já que as agressões podem passar a se tornar cada vez mais frequentes e violentas. Além disso, vale lembrar que assassinatos de mulheres por seus companheiros ou ex-companheiros são comuns. No site do Estadão há a notícia de uma pesquisa que mostra que em 10 anos, 10 mulheres foram assassinadas por dia no Brasil. POR DIA. Pelo site R7: “De acordo com a polícia (…) na maioria dos casos, os agressores são presos em flagrante, negam que tenham cometido o crime e afirmam que a vítima mereceu ser agredida”.

De maneira similar, para o agressor de Débora, ela mereceu levar um tiro. Para ele, ela merecia morrer, porque as mulheres são vistas como sua propriedade, e quando elas não fazem o que ele gostaria que fizessem elas simplesmente não merecem sequer viver.

Escrevo para uma que façamos uma reflexão: de que modo os meninos estão sendo criados? Como são ensinados a se portar em relação às mulheresImage? Como são ensinados a lidar com seus sentimentos, sua tristeza, sua raiva? (Na maioria das vezes isso é descontado em atitudes agressivas, violentas). Como as mulheres são tratadas e representadas na nossa sociedade?

Escrevo porque é nosso direito uma vida livre de violência. Para que homens repensem suas atitudes e não sejam coniventes com amigos agressores, mas que os critiquem sim, para que estes minimamente tenham a consciência de que erraram e que não repitam o ocorrido com outras mulheres. E para que as mulheres continuem denunciando e expondo seus agressores, para que nenhuma agressão fique sem resposta!

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O machismo em espaços libertários (ou o machismo nosso de cada dia)

Muitas vezes nos deparamos com discursos e situações machistas dentro de espaços ditos libertários. É recorrente ouvirmos discursos machistas vindos de homens que se dizem anarquistas e até mesmo feministas, mas geralmente quem critica tais atitudes são as mulheres e não os homens.

Quando as mulheres tomam o posicionamento de criticar esse tipo de conduta (que não deveria existir entre pessoas que se dizem igualitárias, libertárias, feministas, etc.) elas muitas vezes são desqualificadas de alguma forma como “radicais demais” ou até mesmo “feminazis”. O homem machista continua participando do espaço como se nada tivesse acontecido e geralmente sua conduta é apaziguada. Eu mesma já ouvi de um “anarquista”: “o cara é um bom militante, mas é meio machista” (!!!). Mas como um homem machista que diz lutar pela igualdade e contra opressões pode ser um bom militante? Isso é uma contradição em termos!

Os homens quase nunca tomam uma posição. Mesmo quando está claro que a conduta do homem em questão foi machista (depois de diversas provas e argumentações, é claro) os outros raramente se posicionam contra. Tendem a fazer o discurso da “indiferença” ou a favor do colega.

Porém nada é mais falso do que esse discurso da indiferença. Ao se manter “neutro” perante o machismo é sempre o opressor que se beneficia, nunca o oprimido. A conduta do machista é relevada e consequentemente tida como aceitável. Sua presença no espaço é legitimada. As mulheres é que devem relevar o machismo do homem em questão se quiserem frequentar o mesmo espaço. Mas se elas resolvem então criar um espaço de troca entre elas são tratadas como “femistas”, “anti-homens”, injustas e até mesmo nazistas.

Não se trata aqui de polarizar homens e mulheres, ou de um posicionamento contra os espaços mistos, em que ambos participam juntos. Mas se trata de uma crítica ao posicionamento dos homens nesses espaços, ou à falta de autocrítica deles.

Ser feminista dentro desses espaços não é um favor dos homens para as mulheres, mas uma obrigação. E ser feminista se trata de combater o machismo ativamente, não de um apoio passivo que fica só em palavras. Não devemos aceitar o machismo de supostos companheiros. Condutas opressoras devem ser apontadas e combatidas. Repensar o seu próprio machismo é algo que deve ser feito constantemente.

A luta contra opressões não deve ficar restrita a um só campo. De que adianta ser contra o racismo, contra a opressão de classe e continuar perpetuando a opressão machista? A reprodução das desigualdades deve ser criticada e combatida, principalmente dentro dos espaços libertários, já que estes se propõem a lutar pela igualdade.

 

Glossário:

Machismo: desvalorização das mulheres em relação aos homens e de tudo o que é tido como feminino em relação a tudo que é tido como masculino (e isso não vale só para as pessoas, mas para atividades, atitudes, objetos, etc.). É a criação e manutenção de normas de conduta e estereótipos.

Feminismo: é uma luta histórica que busca a emancipação das mulheres, a igualdade de oportunidades e combate aos preconceitos e desvalorizações do que é tido como feminino.

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Um pouco da história do feminismo libertário…

 Muitas das anarquistas não se consideravam feministas por acreditarem que esse termo designava as mulheres que lutavam pelo voto. Porém elas são consideradas feministas por suas preocupações com a emancipação das mulheres, que tem profunda relação com as ideias libertárias do anarquismo, já que este busca a emancipação humana. Desse modo o anarquismo engloba o feminismo, porém os termos “anarcofeminismo” ou “feminismo libertário” passaram a ser usados para dar mais destaque ao campo de atuação que se trata.

Feminismo libertário no Brasil:

O feminismo anarquista tem destaque no Brasil do começo do século XX. Nessa época muitas mulheres atuaram politicamente, em greves pelo aumento de salário, redução da jornada de trabalho, respeito no trato a elas e às crianças e em solidariedade a seus companheiros. Vale lembrar que nessa época, diferentemente de hoje em dia, trabalhadores de diferentes categorias frequentemente entravam em greve em solidariedade a uma outra categoria. Assim, por exemplo, quando os ferroviários paravam, os padeiros, sapateiros e outros também paravam. Foi por esse tipo de organização que a Greve Geral de 1917 foi possível no Brasil.

Maria Lacerda de Moura

Uma das militantes brasileiras de mais destaque da época foi Maria Lacerda de Moura. Ela foi professora, conferencista, jornalista, poetisa e escreveu vários livros que tinham como objetivo passar ideias sobre emancipação humana, questionando o papel da escola e da educação, da religião, do Estado, o fascismo, o militarismo e falando sobre controle da natalidade. Ajudou a fundar a “Federação Internacional Feminina” e o “Comitê Feminino Contra a Guerra”, nos anos 20, que tinham como objetivo articular as mulheres de São Paulo e Santos para além da luta pelo voto, articulada por outras feministas da época.

No caso da Federação Internacional Feminina alguns pontos de discussão eram: “assistência, sistemas coercitivos, trabalhos domésticos e trabalho industrial, seduções, jogo, infância delinquente, investigação à paternidade, júri, direitos civis e políticos da mulher, tráfico de mulheres, coeducação, casamento, (…) divórcio, salário, os crimes da maternidade fora da lei, eugenia, proteção aos animais etc”.

As feministas liberais da época criticavam as anarquistas por considerá-las muito radicais, e as últimas criticavam as primeiras alegando que sua luta era pouco transformadora, limitada à esfera pública burguesa e preservadora das relações hierarquizadas na esfera privada. Um exemplo disso é essa crítica feita por Isabel Cerruti, no jornal “A Plebe” em 1920:

“Revolução na praça, na casa e na cama”

“A Revista Feminina em seu programa propõe-se a propugnar pela emancipação da mulher conseguindo para ela o direito de empenhar-se em lutas eleitorais. (…) Como se a emancipação da mulher se resumisse em tão pouco…

O programa anarquista é mais vasto neste terreno; é vastíssimo: quer fazer compreender à mulher na sua inteira concepção, o papel grandioso que ela deve desempenhar, como factora histórica, para a sua inteira integralização na vida social (…).”

Outras militantes conhecidas são Maria Valverde e Sônia Oitica (filha do militante anarquista José Oiticica), que por volta dos anos 30 e 40 atuaram no teatro libertário e eram ligadas aos Centros de Cultura Social, de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde se discutia temas como moral sexual e sexualidade.

Uma crítica feita pelas feministas anarquistas é que os partidos políticos de esquerda da época diluíam a causa das mulheres na causa do partido, pois estes alegavam que elas deveriam se empenhar na luta pela revolução através do partido, relegando a causa feminista à questão da opressão de classe e criticando os espaços específicos das mulheres, ou seja, não reconhecendo uma opressão específica às mulheres, mas alegando que todos os que não são os detentores dos meios de produção são oprimidos pelo capitalismo (como se isso se desse da mesma forma para todos). Assim, para as anarquistas, a divisão das mulheres em partidos enfraqueceu a luta pela emancipação da mulher.

Feminismo libertário em outros países:

Emma Goldman

Nos Estados Unidos a figura de Emma Goldman se destaca. A militante nasceu em 1869 na Lituânia, mas se mudou para os EUA em 1885 (com 15 anos), fugindo de um casamento arranjado por seu pai. Lá teve contato com as greves pela jornada de 8 horas de trabalho, o que resultou nas mortes de muitos manifestantes – situação que ficou conhecida como caso dos “Mártires de Chicago”.

Sua militância tratava de temas como o controle de natalidade e o amor livre, militarismo e patriotismo como ameaças à liberdade. Apesar do início da sua militância ter tido mais contato com a ideologia de Bakunin, que utilizava a violência como meio para a revolução, no decorrer de sua vida e principalmente após se encontrar com Kropotkin Emma passou a ter ideias humanitaristas. Ela escrevia a revista “Mother Earth” e teve inúmeros relacionamentos, muitos deles com homens bem mais jovens, causando escândalo para a sociedade da época.

Em 1917 em uma manifestação contra o alistamento para a Primeira Guerra Mundial Emma foi presa acusada de conspiração. Ela foi deportada para a Rússia e conheceu Lênin, que havia executado e encarcerado anarquistas e outros dissidentes, além deste último alegar que a liberdade de expressão era um conceito burguês (liberdade esta tão valorizada por Goldman). Isso fez com que a anarquista escrevesse o livro “Minha desilusão com a Rússia”. A partir de então ela mora em vários países diferentes, morrendo no Canadá em 1940. Suas cinzas foram para o Waldheim Cemetery, ao lado dos mártires de Chicago.

Militante das “Mujeres Libres”

No caso da Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), havia a milícia das Mujeres Libres, que atuavam ao lado da CNT-FAI (Confereración Nacional del Trabajo e Federación Anarquista Ibérica). O grupo foi fundado por Apolonia de Castro, Felisa de Castro, Maruja Boadas, María Cerdán, Nicolasa Gutiérrez, Soledad Estorach, Elodia Pou, Conchita Liaño, dentre outras. Durante a guerra o aborto foi legalizado na Catalunha, o grupo atuou pela educação das mulheres por uma maternidade consciente e propunha que elas fossem agentes da revolução para a construção de uma nova sociedade.

Havia a revista “Mujeres Libres”, editada e escrita exclusivamente por mulheres e que se dirigia a mulheres da classe trabalhadora com a intenção de atraí-las para a causa libertária. Falavam de causas como o anticlericalismo (alegando que a religião usava as mulheres como guardiãs da ordem social e moral tradicional), prostituição, o direito ao prazer sexual e o amor livre, alegando que a monogamia se relacionava estreitamente ao capitalismo e à propriedade privada.

Militantes do grupo “Mujeres Libres”

O grupo propunha uma solução coletiva para a emancipação feminina, conscientização e educação. Assim, na Espanha predominou um feminismo que não buscava direitos políticos, mas que fazia reivindicações trabalhistas e educativas, vendo essa luta com uma perspectiva de classe e relacionada ao anarcossindicalismo. A cultura e a educação eram vistas como fundamentais à emancipação humana.

 

Referências:

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Dicas para detectar a violência doméstica.

No dia 25 de novembro, dia internacional pela não violência contra a mulher, assisti a uma palestra sobre o tema e recebi de Irene Navarro, escrivã de polícia da 3ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, uma divulgação de como detectar situações de violência contra a mulher e o que é mais comum baseado em sua experiência:

A Violência Doméstica contra a mulher é composta por 4 fases distintas:

1ª) Acúmulo de tensão: a irritabilidade vai aumentando sem razão compreensível a aparente, as discussões se intensificam e surgem agressões verbais.
2ª) Exposição violenta: ocorre o descontrole e a concretização de atos violentos, é nesta fase que ocorrem os insultos e as agressões físicas; geralmente o autor está sob efeito de álcool ou algum outro tipo de substância entorpecente.
3ª) Dúvida e incerteza: momento em que a mulher se sente confusa e desorientada, o autor sente remorso pelas atitudes cometidas, pede perdão, chora, promete mudar, ser amável, bom marido e pai; conseguindo convencer a mulher da mudança.
4ª) De volta ao passado: o reinício de um novo ciclo, uma vez perdoado tem início uma nova fase de irritabilidade com aumento de tensão, o que ocorre a partir do momento que a mulher começa a usar a autonomia recém conquistada; o autor sente a perda do controle sobre a mulher, o que gera um novo ciclo de violência.

Não é necessário esperar uma manifestação agressiva. Dicas para reconhecer um agressor:

– O controlador: quem de nós não conhece aquela história do homem que quer saber se a mulher entra ou sai de casa, com quem está, como está vestida, aonde vai, quanto gastou, se recebeu ou fez ligações e com quem conversou nessas ligações e o que conversou?
– O dono da razão: esteja onde ou com quem for, desvaloriza, desautoriza ou insulta a mulher?
– O reincidente: aquele que já possui antecedente de comportamento violento com outra pessoa, mulher ou não; até agindo com os chamados atos reflexos, que são os atos repentinos e sem sentido (aquele que depois de agirmos, pensamos: “nossa como fui capaz disso?”); atos de crueldade e falta de arrependimento em relação a esses mesmos atos.

Os fatores geradores de violência doméstica mais comuns:

1º desemprego
2º uso de álcool e drogas
3º fácil acesso a armas de fogo
4º abandono e negligência das crianças

Aproveito para divulgar:

Reportagem sobre violência doméstica
Exemplos dos tipos de violência
Texto que trata sobre violência doméstica contra crianças, mulheres e homens
Música: Cosmogonia – o sentir que violenta (reparem na letra)

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Estupro no BBB?

Daniel e Monique

Na madrugada de domingo, dia 15, supostamente ocorreu um estupro no Big Brother Brasil, programa exibido pela Rede Globo. Enquanto a participante Monique dormia, bêbada e inconsciente, Daniel a teria estuprado. Alguns falam em jogo de marketing e racismo contra Daniel, o único participante negro. A Globo tentou omitir o caso, manipulou as cenas que foram exibidas e agora Daniel foi expulso do programa.

O problema é que no imaginário popular o estupro é relacionado a um homem estranho que ataca uma mulher em um beco escuro à noite, mas o estupro não se dá somente dessa forma, pois em grande parte das vezes ele é cometido por pessoas conhecidas, “amigos” ou da própria família. O estupro se define por um ato sexual feito sem consentimento. O caso de Monique é previsto na lei como “estupro de vulnerável”, ou seja, quando a vítima não consegue oferecer resistência ao ato (seja por estar entorpecida por drogas ou álcool, ter retardo mental e etc.). Se Monique não disse não, isso não significa que ela quis dizer sim.

O acontecimento serve para colocarmos em questão o que é um estupro, vermos que ele é mais comum do que gostaríamos de acreditar. Temos que lembrar que a responsabilidade do estupro é do homem que o comete, não da vítima. Cabe aos homens respeitarem as mulheres e não estuprar. Uma pessoa inconsciente não consegue dizer sim ou não, portanto não é uma boa ideia ter uma relação sexual com ela. Se a Globo deu bebida aos participantes, a mesma não obrigou Daniel a fazer o que fez, ele não é a vítima do caso e é o seu ato e não a sua cor que gerou isso tudo. Não interessa a roupa que Monique estava ou o seu comportamento habitual, sexo sem consentimento é estupro!

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